Quem não se recorda do fantástico Barcelona orientado por Pep Guardiola (2008/2012), mais de 70% de posse de bola, bola a circular de pé para pé com muita paciência, controle absoluto do jogo e dos momentos deste onde imperava a diversão no seio do grupo em ter a bola.

Uma equipa que ficou na história do futebol pela simplicidade de processos, pela inteligência/precisão, pela elevada qualidade dos seus intervenientes e pelo domínio da arte do passe.

Atendendo a que o futebol é um jogo de invasão de espaço, onde os jogadores têm de fazer chegar a bola à baliza adversária recorrendo a distintas formas para atingirem esse objetivo, o passe ganha uma enorme preponderância.

Considerando ainda o cariz coletivo e as exigências físicas/táticas do jogo, o passe é sem dúvida a ação predominante no jogo, segundo Castelo (2000), 80% das situações em que o jogador está em posse, a sua intenção é de passar a bola a outro companheiro, nas restantes situações, dribla, finta, conduz, simula ou remata.

A execução do passe está relacionado com dois aspetos fundamentais:

1. O aspeto Tático

A ação tática a exercer está relacionada com a tomada de decisão, isto é, o jogador analisa o momento em que se encontra e executa o gesto que lhe parece mais adequado à situação em função dos colegas de equipa, do posicionamento dos adversários e da zona do terreno de jogo. Mais de metade dos passes acontecem no espaço intermédio, atendo ao facto de este ser uma zona preferencial para a elaboração de ações ofensivas.

A decisão da ação poderá ser afetada ainda pelos objetivos táticos a executar no momento pela equipa, pelo tempo de jogo, ritmo de jogo pretendido ou resultado momentâneo do jogo.

Em suma, atendendo ao objetivo principal de um jogo de futebol, a obtenção do golo, o aspeto tático do passe pode atender a três pressupostos essenciais:

• A bola deve ser direcionada para um companheiro que se encontre de uma forma mais profunda no terreno de jogo;

• A variação do centro de jogo é essencial, porque permite desorganizar o posicionamento defensivo adversário;

• O passe na direção da própria baliza deve acontecer em último recurso.

2. Aspeto Técnico

É a ação mecânica do gesto em si, que poderá adotar uma trajetória longa, curta, alta, rasa, com ou sem efeito dependendo do objetivo do portador da bola.

O sucesso de passe está relacionado com três fatores essenciais:

a) Timing da execução, um passe executado no momento certo poderá trazer vantagens ao seu companheiro;

b) Potência, fundamental no ritmo de jogo e ligação entre os jogadores;

c) Precisão, um passe mal-executado poderá fazer com que o recetor tenha de mudar a sua trajetória, comportamento e ação.

Embora muitos estudos científicos afirmem que uma grande percentagem de posse de bola não garanta a vitória numa partida de futebol e que não exista uma forma efetiva de ensinar o gesto técnico do passe (este está relacionado com a eficácia e a eficiência), é indiscutível a importância deste no jogo.